Pesquisa aponta correlação entre disfunções temporomandibulares e organização do trabalho

Pesquisa aponta correlação entre disfunções temporomandibulares e organização do trabalho


A pesquisa aponta uma possível correlação entre o modelo organizacional prevalente no setor de serviço de teleoperações e o desencadeamento ou agravamento das disfunções temporomandibulares - DTMs. Essas doenças são "vinculadas às estruturas musculoesqueléticas da região orofacial, envolvendo ossos maxilares e temporais, mandíbula, musculatura mastigatória e articulações temporomandibulares", cujos sintomas podem se manifestar em outras regiões do corpo. Os fatores psicossociais podem agravar as DTMs. Assim a interlocução com os saberes da organização do trabalho buscou compreender possíveis implicações dos modelos produtivos preconizados e adotados na atualidade nesse tipo de adoecimento. Também se considerou as relações de prazer e sofrimento vivenciadas pelos trabalhadores, a partir do referencial teórico da psicodinâmica do trabalho, desenvolvida por Christophe Dejours. "Se as normas são menos rígidas, e o trabalhador pode usar a sua subjetividade, o trabalho vai gerar prazer", explica Hopp. Mas nem sempre o sofrimento, inerente ao trabalho, pode ser transformado em prazer. A organização do trabalho se caracteriza pela flexibilização e precarização. Há enxugamento de quadros e intensificação do trabalho. As sobrecargas emocionais podem levar ao adoecimento somático e psíquico. No caso das DTMs, há uma invisibilidade das possíveis relações com o trabalho, que ficam encobertas, por isso o uso do termo "escamoteação". O pesquisador aponta uma lacuna no acompanhamento da saúde integral dos trabalhadores, em que existe uma ausência do diagnóstico periódico das condições buco-dento-faciais realizado por profissional habilitado como o cirurgião-dentista. Hopp ainda coloca que as DTMs são compostas por quadros patológicos osteomusculares de múltiplas causas. Há uma relação bidirecional entre fatores sociais, psíquicos e emocionais. Outro dado importante é a maior prevalência em mulheres e entre adultos de 32 e 39 anos. Defesa No dia 13 de abril, os professores José Tadeu Tesseroli de Siqueira, da Faculdade de Medicina da USP, e Carlos Sérgio da Silva, da Pós-Graduação da Fundacentro, compuseram a banca de defesa, presidida pela professora Laura Nogueira. O professor da USP apontou um avanço extraordinário na pesquisa desde a qualificação, que é inovadora por tratar das DTMs de forma diferente. "Foi uma grande aventura pessoal e científica. Vejo mérito no trabalho e ele pode trazer bons frutos para a organização do trabalho", afirma Siqueira. "Hopp coloca uma série de questões importantes, que estão na lei, mas na prática não existem", completa o professor Carlos Sérgio. Para ele, a abordagem da organização do trabalho a partir de Dejours foi uma escolha interessante. Já para a orientadora Laura Nogueira, o orientando teve capacidade e humildade de forjar um olhar a que não estava acostumado. "Pesquisar é lançar olhar novo sobre algo que está lá o tempo todo. Ele conseguiu isso", finaliza a professora.   Fonte:Fundacentro